Sobre estar só
- KzAline

- 11 de jun. de 2020
- 1 min de leitura
Atualizado: 30 de jun. de 2020
"Sobre estar só, eu sei
Nos mares por onde andei
Devagar."
“Coração é terra estranha que ninguém pisa”, dizia a minha bisavó. Mas como pode o homem pisar na Lua sem antes caminhar por sobre o solo do próprio peito? Como pode alguém ousar viver com outro alguém sem que aprecie a companhia de si mesmo?
É preciso estar só.
É preciso navegar no mar de dentro e desbravar o infinito particular. Tomar o próprio leme e cruzar por entre essas águas revoltas. Apaziguar os demônios do peito com o sussurro da própria voz.
Estar só é ensimesmar-se. Cair em si. Recolher-se. Revisitar-se. É ser mulher e visitar a menina que brinca em suas lembranças, e coexistir com as inúmeras faces do Eu que olham de dentro pra fora. É percorrer os quadros nas paredes da memória e clarear as estradas da mente seguindo a luz interna.
Estar só é caminhar de mãos dadas consigo. É partilhar da própria presença de espírito e, assim, ter muito mais de si para dar àqueles que escolheram andar ao seu lado. É refletir além do espelho, transbordar e enxergar por toda parte as extensões que te sustentam.
Estar só é saber ser a preferida de si mesma e dar as costas ao que vem pela metade. É ser inteira e completa, porém divisível e renovável. É saber fechar suas portas enquanto flui pelas janelas. É a mitose diária da essência.
Quando estou só, todo o mundo faz silêncio e a minha voz ressoa livre. Me rasgo e me remendo, me ergo, me sustento e me compreendo. Sou caça e caçadora de mim ao mesmo tempo.





Esse texto me confortou demais em vários aspectos. Obrigada por dividir ❤️